Sector Hídrico

As projeções de uma diminuição da precipitação acumulada ao longos das próximas décadas representam um desafio significativo para o setor dos recursos hídricos em Angola, limitando a disponibilidade, qualidade e gestão da água. Em conjunto, o aumento da temperatura limitará a capacidade de retenção de água nos solos, barragens e cursos de água, devido a um aumento da evapotranspiração potencial. Sendo assim, rios e reservatórios poderão enfrentar um declínio nos seus níveis, podendo comprometer periodicamente o abastecimento urbano, rural e industrial. Além disso, a infiltração reduzida pode impactar de forma negativa os lençóis freáticos, tornando o acesso à água subterrânea mais difícil e dispendioso.

Como consequência direta das alterações dos padrões de precipitação e aumento da temperatura, projeta-se um aumento na frequência, intensidade e duração das secas, afetando a segurança hídrica e amplificando problemas de desertificação em regiões já vulneráveis, como o sul do país. A escassez de água pode ter impactos negativos na produção agrícola, na geração de energia hidroelétrica e na biodiversidade. Por outro lado, chuvas intensas e concentradas poderão aumentar o risco de inundações, provocando erosão do solo, assoreamento de rios e danos nas infraestruturas hídricas.

A qualidade da água é também um outro fator de risco como consequência das alterações climáticas. A redução dos caudais pode aumentar a concentração de poluentes nos cursos de água, afetando o abastecimento para consumo humano e dificultando o tratamento da água. Águas paradas, bem como o aumento das temperaturas pode favorecer a proliferação de algas, microrganismos patogénicos e mosquitos vetores de doenças (como a malária, dengue, zika, entre outros), agravando os riscos sanitários.

Medidas de adaptação do setor

Para mitigar estes impactos, é essencial a implementação de estratégias de adaptação e gestão sustentável dos recursos hídricos, incluindo:

  • Reforço das infraestruturas hídricas e requalificação das já existentes, garantindo maior resiliência e eficiência na captação e distribuição de água para as populações;
  • Implementação de sistemas de irrigação mais eficientes, reduzindo o desperdício e melhorando a produtividade agrícola;
  • Adoção de práticas de conservação da água, incluindo a reutilização da água para outros fins (rega de jardins, agricultura, limpeza urbana…), dessalinização em regiões com escassez de água doce (regiões áridas e semiáridas, como o caso do Namibe), otimização da rede de abastecimento de água para minimizar perdas, criação de sistemas de drenagem e retenção de água, mitigando ocorrências de inundações e erosão dos solos, bem como garantir um eficiente armazenamento de água para enfrentar períodos de seca;
  • Fortalecimento da monitorização climática, meteorológica e hidrológica, permitindo a antecipação de eventos extremos e o desenvolvimento de planos de contingência;
  • Desenvolvimento de políticas públicas eficazes e gestão integrada dos recursos hídricos, assegurando a participação ativa das comunidades locais, bem como o envolvimento do setor privado e das instituições governamentais.