Sector agrícola

O parâmetro da precipitação possui maior grau de incerteza, prevendo-se, em todos os cenários para a região sul de Angola, uma redução de precipitação acumulada nos meses de Setembro a Novembro, seguindo-se um aumento nos meses de Dezembro a Fevereiro.

Temperaturas mais elevadas e escassez de precipitação contribuem para o progressivo agravamento da frequência, intensidade e duração de secas ao longo do século XXI, podendo afetar significativamente a produção agrícola.

A diminuição da precipitação e o aumento das temperaturas influenciam diretamente a disponibilidade de água para irrigação e reduzem a humidade do solo, tornando mais difícil o cultivo de culturas essenciais, como o milho, o sorgo, leguminosas, batata, etc... Ao mesmo tempo, temperaturas mais elevadas levam a um aumento da evapotranspiração intensificando o stress hídrico das plantas, podendo levar a perda de produtividade agrícola. A escassez de precipitação na época de sementeira, que muitas vezes ocorre em Setembro e Outubro, pode influenciar de forma muito negativa a produção de cultivos essenciais na região.

As secas prolongadas impactam negativamente na qualidade dos solos, contribuindo para a desertificação e para a degradação da terra arável. A erosão dos solos, impulsionada por chuvas irregulares e eventos extremos, pode exacerbar ainda mais este problema, dificultando o cultivo de alimentos. Por outro lado, as ondas de calor não constituem apenas um fator de risco para a população, mas também para a produção de gado, reduzindo a disponibilidade de pastagens e aumentando os riscos de doenças e de mortalidade nos animais. A menor disponibilidade de alimentos pode levar a quebras na produção pecuária, impactando economicamente as comunidades agropecuárias.

O comprometimento da segurança alimentar pode levar ao risco de subnutrição e de carências alimentares, particularmente nas populações mais vulneráveis da região do sul de Angola, como é o caso das populações mais rurais e mais dependentes da agricultura e agropecuária. De facto, as capacidades adaptativas dos pequenos agricultores em Angola são limitadas devido à falta de acesso a tecnologias adequadas, recursos financeiros e informações sobre práticas agrícolas resilientes, o que dificulta a implementação de estratégias eficazes contra os impactos das mudanças climáticas.

A adaptação às alterações do clima torna-se assim uma prioridade na agricultura, de forma a garantir a melhoria e sustentabilidade de práticas agrícolas no sul de Angola, protegendo os meios de subsistência das comunidades rurais e assegurando a disponibilidade de alimentos para a população no futuro.

Medidas de adaptação do setor

Entre as estratégias de adaptação que podem ser consideradas estão, essencialmente:

  • Desenvolvimento de culturas mais resistentes à seca e às temperaturas elevadas, promovendo a diversificação agrícola e o uso de variedades locais adaptadas às condições climáticas da região, como o caso do sorgo e milheto;
  • Promoção de técnicas de conservação do solo e da água, incentivando práticas sustentáveis como a rotação de culturas e sistemas de irrigação eficientes para mitigar os efeitos da variabilidade climática. Por exemplo, estratégias de manejo do solo, como fertilização orgânica, podem ajudar a melhorar a retenção de humidade no solo para promover colheitas mais estáveis.
  • Nas regiões sudeste e sudoeste, onde a precipitação reduzida e o aumento das temperaturas são mais pronunciados, a adoção de práticas de gestão de água mais eficientes, como irrigação porgotejamento e/oua divisão dos tempos de irrigação, será essencial. Técnicasque poderão otimizar o uso da água e garantir a produtividade das culturas, especialmente para culturas comerciais e sensíveis à seca, como milho e feijão;
  • Sistemas de alerta precoce para eventos climáticos extremos, de modo a contribuir para uma melhor e mais informada tomada de decisão, minimizando os seus impactos;
  • Reforço da capacitação dos agricultores, através de programas de formação que promovem o acesso ao conhecimento sobre técnicas agrícolas adaptativas e novas tecnologias.
  • Adoção de práticas agroecológicas e de agricultura sustentável, reduzindo a dependência de produtos químicos e melhorando a resiliência dos solos e dos ecossistemas agrícolas;
  • Acesso a financiamento e seguros agrícolas, permitindo que os pequenos produtores possam investir em medidas de adaptação sem comprometer a sua subsistência;
  • Promoção de parcerias e políticas públicas direcionadas para a adaptação climática, incentivando o desenvolvimento rural sustentável.